Quando você ouve que seu filho não é compatível com a vida

No dia 19/06/2020 eu tive a  oportunidade de compartilhar a história de nossa família com a Nina. Além disso, apresentei alguns princípios no cuidado de como aconselhar alguém passando por essa situação, além de também ter me referido a pessoas que estão neste momento de suas vidas. #aconselhamento

A gravação foi feita para um grupo no Google Meet, promovido pela Igreja Fonte de Campinas. O vídeo foi divulgado pelo canal da Igreja Fonte de Paulo Afonso.

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Supostas palavras de piedade e consolo

É verdade, sabemos que Deus age em todas as coisas para o bem daqueles que o amam (Romanos 8:28). Apesar de divina e verdadeira, a sentença, cuja essência transborda de esperança, consolo e alegria, pode ser bastante agressiva (ofensiva) se usada negligentemente, mais especificamente, se usada sem conhecer o coração humano quando diante do sofrimento.

Por exemplo, quando tínhamos o diagnóstico de que Nina tinha síndrome de Patau, também já tínhamos nossas passagens de avião compradas para Campinas-SP. Na época morávamos em Cabedelo-PB e, apesar de gostarmos muito de lá, a mudança foi tanto uma sugestão médica, quanto uma opção pessoal. Médica, porque os hospitais de João Pessoa-PB, segundo alguns profissionais da área de saúde nos disseram, não estavam preparados para caso precisássemos de uma intervenção cardíaca pós-parto. Pessoal, porque queríamos estar ao lado de nossos familiares, amigos próximos e igreja (enviadora).

Uma semana antes da nossa viagem, ouvimos a mensagem dominical da nossa igreja de Campinas online e ao vivo. Ao final do culto, nosso sábio pastor, sem saber que estávamos assistindo, orientou a igreja: “Zambelli e Karen estão vindo para cá. É muito provável que muitos de vocês queiram, agora, consolá-los. Deixe-me dizer, vocês não precisam falar nada! Vocês não têm que falar. É provável que você não saiba o que falar e, quando falar, não saia da forma como você gostaria que saísse. Assim, mesmo que você não consiga se controlar e vai falar, diga ‘estou orando por vocês.'” (As palavras não eram exatamente estas, mas a essência é fiel ao que relatei aqui.)

Quando chegamos em Campinas e fomos ao culto, ouvimos de dezenas de amigos e irmãos na fé: “estou orando por você(s).” Foi consolador saber disso. De fato, eu nunca estive numa posição tão paradoxal entre alegria, tristeza, paz e luta em toda minha vida. Costumo dizer: “ainda que eu não saiba mensurar em números, foram as orações das centenas de pessoas que nos mantiveram de pé.” [1]

Porém, apesar do sábio conselho pastoral, alguns arriscavam frases aparentemente piedosas para nos consolar, tais como:

  • “Deus é soberano e sabe o que faz;”
  • “No final tudo dará certo;”
  • “Ainda bem que você são fortes;”

Entre as frases, alguns versículos eram citados, mas nenhum deles mais que a primeira parte de Romanos 8:28 (na versão Revista e Atualizada): Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus.

David Powlison, no artigo I’ll never get over it [Eu nunca superarei isso] (JBC 28:1 [2014]: 8-27), escreveu:

“Quando você está no início do processo de enfrentar a dor, é um insulto alguém lhe dizer: Deus vai fazer algo bom através disso.”

Ainda que insulto não fosse bem a palavra que descrevia meu sentimento, eu me sentia como se as pessoas estivessem depreciando o meu sofrimento. Paul Tripp e Timothy Lane, sobre isso escreveram:

As Escrituras nos lembra que nunca devemos considerar o sofrimento de forma leve, porque Deus não o considera assim. A mensagem central da Bíblia é que Deus não passou por cima do sofrimento, mas tomou medidas custosas para terminar com ele. Ele nos enviou um Redentor, Seu filho Jesus Cristo, que sofreu ao nosso lado para nos dar esperança, propósito e perseverança em meio às lutas da vida. (How People Change, 2006).

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Dia inesquecível

Dia 09/03/2012 foi um dia inesquecível. Em primeiro lugar, porque era o aniversário de meu primeiro filho, Enzo. Em segundo e não menos importante, porque foi o dia em que Deus atendeu a um de meus pedidos: trazer Nina do hospital para casa.
 
Neste dia não celebramos somente a manutenção de Deus por mais um ano de vida completo de Enzo. Celebramos também o carinho e amor de Deus, que nos proporcionou dias maravilhosos com Nina em casa. Este foi somente o primeiro daqueles dias. Obrigado Jesus Cristo!
 
Dia inesquecível - 09/Março/2012
 

Nina faleceu: preparados, mas despreparados

Como família Carreiro Zambelli, o mês de março de 2012 foi o mais singular de nossas vidas. Nina, nossa filha, foi a chave-mestra desta história. “Nascida” no dia 27 de fevereiro, ficou conosco até dia 26 de março, quando Deus decidiu levá-la para Si.
Com exatidão, somente Deus é quem sabe o tempo de cada homem e mulher que habita, habitou e habitará este lugar. Neste planeta somos todos como brinquedos de corda, com começo e fim, não somos imortais. Nina era como uma uma linda bailarina de uma rara caixinha de música, mas que tinha pouca corda. Nós sabíamos disso, mas não queríamos que a música nem a dança acabassem.
Por termos estudado bastante sobre a síndrome de Patau, nós tínhamos uma boa expectativa sobre o que esperar de nossa filha. Conhecíamos relativamente bem o prognóstico, tínhamos acesso a dados científicos e estávamos acompanhados de bons profissionais. Apesar deste preparo, ainda estávamos despreparados para deixá-la partir. Não posso afirmar com plena segurança o que sentíamos, mas sem medo de errar, parte era porque nenhum pai ou mãe gostaria de ver seu filho ou filha deixando este mundo primeiro do que eles.
A ida de Nina foi mais um item da história da provisão de Deus. Ela entrou em falência quando estávamos numa rotineira consulta médica. As segundas-feiras depois do almoço era um tempo reservado especialmente para isso. Quando o eminente fim começou, havia um profissional para nos dizer o que estava acontecendo e não precisamos passar por aquele momento sem saber como proceder. Dirigimo-nos para o hospital, onde cerca de 3hrs depois de nossa chegada, ela partiu; seu coração não mais bateu, uma lágrima desceu.
Claro que esta foi uma das experiências mais expressivas que vivemos em toda nossa vida. Sabemos também que isso não ficou somente com a gente. Avós, irmãos na fé e muitos amigos sofreram juntos. Recebemos centenas de mensagens de apoio, dezenas de outras que, por causa dessa experiência, revia seu relacionamento com Deus. Muitas destas pessoas nós nunca conhecemos pessoalmente. Tenham certeza de que somos muitíssimos gratos a Deus por cada um que participou conosco desta história, que de alguma forma, consolou e nos motivou a continuar na trilha correta; obrigado.
O tempo, usado de forma correta, ajuda-nos a superar a saudade que sentimos de nossa pequena Nina. As promessas de Deus são fundamento sólido para descansarmos. Como é gostoso saber que um dia poderemos desfrutar da eterna presença do Criador juntos de uma forma que nenhuma palavra é capaz de descrever: nem o mais belo poema, nem mesmo a mais linda canção ou paisagem.
Sim, somos pessoas com fé. Confesso que não tenho fé suficiente para ignorar minhas experiências e especialmente as Palavras das Escrituras Sagradas. Nosso maior desejo é sermos fiéis a Ele, sabendo que existe uma inevitável consequência por isso: a felicidade: Como são felizes os que obedecem aos seus estatutos e de todo o coração o buscam! (Salmo 1:2 NVI)